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Atletismo Adaptado APADEVI
Paralimpíadas vista com outros olhos
Superando diferentes obstáculos, atletas com deficiência visual gravam o seu nome no cenário esportivo da cidade. Aos trancos e barrancos, alunos da Apadevi Ponta Grossa apresentam o atletismo adaptado para a cidade e avisam: queremos a Paralimpíadas
Em uma sala da Associação de Pais e Amigos do Deficiente Visual (Apadevi), um grupo de adolescentes é questionado sobre um futuro próximo: “Qual é o principal objetivo de vocês?”. A resposta é unânime: “As paraolimpíadas, é claro”. Dedicação não faltará para Stephanie, Ana Patrícia, Luan, Pâmela, Jéssica e Cláudia. A equipe de Atletismo Adaptado da instituição de Ponta Grossa pretende disputar a Paralimpíada que será realizada pela primeira vez no Brasil, em 2016. Tempo para treinos e aperfeiçoamentos eles têm de sobra. Garra também. Com tantos sonhos, os jovens atletas só pensam em superar metas, vencer desafios e trazer alegrias para todos os pontagrossenses.
A Apadevi é uma organização não governamental (ONG) sem fins lucrativos. Atualmente atende 191 pessoas com deficiência visual total e/ou com baixa visão, sem limite de idade, em diversos programas. Dentro disso, uma das atividades ofertadas é o esporte. Ainda de maneira precária, o atletismo é a única atividade esportiva na grade de programas. A nova sede da associação está em fase de construção, e a piscina para natação está com seu lugar garantido no espaço. Mas enquanto isso, o foco é nas pistas de corrida e lançamentos.
Relação de confiança
Fator indispensável na prática desportiva adaptada, o atleta guia aparece como auxílio para a busca da vitória. Atualmente, a Apadevi conta com seis atletas guias. A “menina dos olhos” da Apadevi é o projeto “Oficina de Atletas-Guia”. Segundo a assistente social da instituição, Regina Rosa, a proposta do projeto é “trabalhar o fortalecimento de vínculo comunitário com os usuários atendidos pelos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) que estão em vulnerabilidade social”. Trocando em miúdos, o objetivo do projeto é uma quebra de preconceitos de mão dupla: tanto dos assistidos pela Apadevi quanto das crianças assistidas pelos CRAS.
A delicadeza na situação dos atendidos pelos atletas guia é um diferencial a mais para que façam seu trabalho cada vez melhor. “É gratificante vê-los e ajudá-los a chegar até o topo. Eles provam para os outros e também para si mesmo que serem vistos e qualificados como diferentes é algo errado”, relata Diego Cavalli, um dos professores de Educação Física da insituição, e atleta guia. Além de provarem para os outros a capacidade que têm, os atletas com deficiência visual provam para si mesmo que possuem capacidade como qualquer outra pessoa. Diego ressalta a importância da gratidão dos atletas para com a instituição: “Com as vitórias e bons resultados colecionados até aqui, eles devolvem para a Apadevi tudo aquilo que foi ofertado e investido neles”.
Superando diversas barreiras
Além da superação social imposta naturalmente pela deficiência, a superação vem também da situação precária. Os treinos diários da equipe de atletismo adaptado da Apadevi são momentos que se aproximam da realidade nômade: a equipe migra por diversos locais da cidade. Há dias em que os treinos são na própria sede da Apadevi, ou então no Campus UEPG Uvaranas, e na Arena Ponta Grossa.
Para o presidente da instituição, Generoso Fonseca, “as dificuldades são muitas, mas sempre damos um jeito para que eles participem de competições e tenham condições para treinar”. Para os atletas guia, “a falta de locais adaptados para o treinamento prejudicam a qualidade do trabalho desenvolvido, limitando os treinos”. O ponto de largada feito com restos de meio fio é prova disso.
Apesar da dificuldade encontrada na precariedade, Diego Cavalli ainda vê um ponto positivo nessa falta de qualidade: “Na dificuldade que buscamos melhorias”.
Sonho que se sonha junto
A felicidade dos pais está na felicidade dos filhos. Adriane Borba está aqui para provar essa afirmação. Mãe da atleta Stephanie Borba, Adriane não teve uma relação de amor a primeira vista pelo atletismo, assim como a filha: “Achei que era algo que não daria futuro, era apenas mais uma fase”. Para um pai e uma mãe, deixar o filho abrir as asas e voar mais alto é difícil. Para um pai e uma mãe, deixar o filho com deficiência visual abrir as asas e voar mais alto é ainda pior. Adriane destaca que deixava Sthephanie com mais sintoma de “coitadismo” do que ela relamente era/é.
Sthephanie é uma das atletas pratas da casa da instituição. Quando a equipe ainda era composta por apenas 4 atletas, ela estava entre eles. A mãe sempre teve uma dificuldade em acreditar que isso daria bons frutos. Para Adriane, a maior dificuldade são as viagens: “a estrada é meu maior medo. Não quando ela está no local de competição, mas quando ela está a caminho ou voltando. Só sossego quando sei que ela está na cidade”. Para ponderar essa situação, o pensamento de Adriane é o fato da filha já ser naturalmente privada de muita coisa, isso causa uma dificuldade da mãe dizer os temerosos – e precisos – não’s para a filha.
Apesar dos medos e aversões que ainda existam, Adriane só deseja ver a filha feliz e realizada: “Temos uma cumplicidade muito grande. Se isso a faz feliz, tenho que apoiar. Só quero a felicidade da minha filha”.
Almejando vitórias, enxergando conquistas
A equipe de Atletismo Adaptado da Apadevi é exemplo a ser seguido por muitas pessoas. O desejo pela participação e vitória das Paralimpíadas é palpável e está mais perto com a tamanha dedicação vinda desses atletas. “Além da qualidade de vida é um esporte que eu aprendi a gostar com o tempo, e eu pretendo estar na Paralimpíadas e ser uma profissional”, diz Stephanny.
Para a atleta Ana Patrícia Franco, “o atletismo mostra que a gente é capaz de fazer o que a gente quiser e podemos alcançar grandes vitórias”. “O esporte é importante para nossa auto-estima, para que possamos sentir que temos uma utilidade, se assim posso dizer; que temos condição, potencial e talento”, destaca Pâmela Aires.